quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Carlinhos Brown: musicalidade e encontro de culturas

Porto de chegada de culturas várias através dos séculos, a Bahia frutifica e se renova, num estado de permanente formação. Europeus, africanos, indígenas, orientais... os ventos e raças conflitam e se fundem dando origem a um jeito de ser baiano. Salvador, sua capital, acolhe e abriga em seus nichos estes filhos venturosos, aplaudindo a maravilha da miscigenação.

Dentro deste universo, floresce e resiste às mutações do tempo a comunidade do Candeal Pequeno, com características tribais de relacionamento sócio-econômico, em que a família é base, eixo e ninho de onde se arremessa o filho para o vôo. Ali, em 1962, nasce Antônio Carlos Santos de Freitas, de negra pele que transpira curiosidade, negros olhos que captam e espelham novos tons.

Este pequeno aguadeiro acaba por desaguar nos veios do Mestre Pintado do Bongô - Osvaldo Alves da Silva - seu condutor no fluido musical. Mestre Pintado ensina ao menino Carlinhos mais que tocar instrumentos, ele o ensina a como “trabalhar com música” - o que seria fundamental na sua formação - e vaticina a sua projeção artística.
Das mãos de Mestre Pintado, em sua companhia pelas noites festivas dos bares e casas de show da fervilhante Salvador da década de 70, Carlinhos parte do Candeal para desfrutar de uma rica convivência no diversificado ambiente musical dos festivais promovidos pelos colégios da cidade e, desde então, como músico e compositor, desperta a atenção dos que o cercam por sua inata competência na arte de fundir, redescobrir e percutir sons.

Dançando na rua, a música e a dança das ruas, ganha a alcunha que lhe será bandeira: Carlinhos Brown, como o músico James Brown, como o militante H. Rap. Brown - Black Panther - sendo o próprio Carlinhos uma fusão de músico e militante, não de uma raça, mas de uma rica multiplicidade cultural. A música de Carlinhos Brown é extremamente abrangente, comunica não por ser a música em si uma linguagem universal mas, por sua música ser visceral e espiritual, que ecoa pelo vento, nos quatro cantos e por todos os lados, partindo das raízes da terra.

Brown redescobre e reinventa o timbau como seu instrumento de escolha, por sua flexibilidade e versatilidade, que são elementos também dele próprio. Mas ele é mais que um percussionista, é um prisma de sons que se coloca como receptáculo e veículo de uma obra maior que ele mesmo.

Partindo do ambiente musical vivido no Candeal entre sopros, batuques e canções, ouvindo a música das ruas e das coisas, trança uma trajetória dinâmica e rica tocando, arranjando e compondo com e para os mais diversos artistas e grupos, representantes de variados estilos, passando por todos eles como mestre e aprendiz.

No começo dos anos 80, chega aos estúdios WR e ali aprende técnicas de sonorização e produção - aprendizado que mais tarde se materializaria em "Ilha dos Sapos", seu estúdio, com equipamentos de última geração e totalmente voltado para a viabilização do melhor rendimento dos artistas - de onde produzirá, entre outros, CDs de Margareth Menezes e Arnaldo Antunes.

Brown segue penetrando em todos os meios musicais e percorrendo diversas vertentes aperfeiçoando os seus dons. É um descobridor, um experimentador que não teme riscos e extremamente produtivo, chegando, em 1985, a ter vinte e seis músicas tocando nas rádios - pelo que ganha o Troféu Caymmi, mais importante prêmio da música baiana.

Fonte: Site Oficial de Carlinhos Brown
www.carlinhosbrown.com.br

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